Pequenos números, grandes estragos

Os portais de notícias, jornais impressos e jornais televisivos sempre noticiam os índices de inflação e de retração do PIB em números percentuais, e não há nada de errado com isso. Afinal, é assim que eles são calculados, e é assim que são divulgados. Mas, para o público não muito versado em matemática e economia, ler que o PIB brasileiro recuará 2% ou 3% num ano pode não parecer algo tão trágico. Afinal, para a mente do homem comum, variações deste montante costumam passar despercebidas na vida diária. Tomemos como exemplo uma situação típica de mercado: o sujeito sai para fazer compras e paga R$ 78,00 por uma bermuda. Três meses depois ele sai para comprar uma outra bermuda, e encontra um modelo por R$ 79,99, ou seja, um valor 2,5% superior ao que pagou da última vez. Parece muito pouco, certo? Parece porque é, quando se fala em dezenas ou centenas de reais. Mas e quando a base de comparação está na casa dos trilhões?

Uma matéria divulgada hoje no portal do Estadão mostra que a mais recente pesquisa Focus, do Banco Central, aponta uma projeção de 3,10% de queda para o PIB em 2015 e de 1,9% adicionais em 2016. Algumas verdades importantes que precisam ser ditas sobre esses números:

  • O PIB brasileiro foi de R$ 5,521 trilhões em 2014. Uma redução de 3,10% significa 171.151.000.000,00 reais a menos de riqueza gerada. Sim, a conta é essa mesma, cento e setenta e um bilhões de reais a menos, ou o equivalente a 7 anos de bolsa-família;
  • Apenas 6 países têm previsão de queda percentual maior que a do Brasil em 2015: Guiné Equatorial, Serra Leoa, Venezuela, Ucrânia, Vanuatu e Rússia;
  • A última vez que o PIB caiu por dois anos seguidos foi em 1930, ou seja, 85 anos atrás. O detalhe é que nessa época o mundo enfrentava os efeitos da grande recessão de 1929, e hoje o crescimento econômico médio mundial é o maior dos últimos quatro anos. Estamos na contramão do planeta;
  • Considera-se que um país entrou em recessão quando o PIB diminui por dois trimestres consecutivos. Isso já havia acontecido no início de 2014, ano em que só nossa economia cresceu míseros 0,1%. A se confirmarem as previsões, poderemos amargar até oito trimestres consecutivos de retração econômica;
  • Todos os índices que medem o estado enfermo de uma economia – retração na indústria e comércio, desemprego, inflação, queda de investimento externo, contas públicas deficitárias – quebraram as marcas histórias dos últimos 12 ou 13 anos.

Tenho certeza que a maioria das pessoas que lerem este texto não o farão com novidade alguma, pois já estão sentindo na própria pele os efeitos da pior crise econômica já vista em seu tempo de vida. Mas, para os que ainda tentam encontrar um ponto de vista otimista, aquele que todo mundo do governo petista parece enxergar, torço que compreendam a dureza da realidade: otimismo é a pior opção neste momento.

Para finalizar, presto uma homenagem ao semi-analfabeto que nos colocou no caminho para o buraco, e que gosta de usar figuras futebolísticas para ilustrar as mais diversas situações: se não trocarmos o comando da nação, logo seremos rebaixados para a série C e nos tornaremos uma republiqueta de várzea. Chega de Dilma, chega de PT.

Um comentário sobre “Pequenos números, grandes estragos

Deixe um comentário